O diagnóstico psicopedagógico na fase pré-escolar
Desafios e Possibilidades
A ação investigatória da psicopedagogia irá contribuir, através do psicodiagnóstico para o esclarecimento das causas dos possíveis sintomas que influenciem um bom rendimento escolar do educando.
Este tema atraiu a minha atenção devido ser importante investigar de forma adequada, direcionada e com profundidade os sinais e sintomas que acometem o ser humano, os quais diferem de acordo com o indivíduo e o meio que o cerca.
Ainda em pleno século XXI, ocorre uma quantidade significativa de equívocos em diagnósticos apresentando consequências negativas, que prejudicam o paciente, seus familiares e o profissional envolvido causando muitos transtornos no tratamento a ser realizado.
É extremamente fundamental termos profissionais capacitados em realizar diagnósticos eficientes e eficazes, através do aperfeiçoamento da escuta, da observação e percepção do psicopedagogo em conhecer o que esteja alterando a capacidade do aprender da criança na fase pré-escolar e dificultando sua aprendizagem, tendo como meta prevenir a sedimentação de crenças capazes de originar e fixar comportamentos nocivos os quais podem comprometer o potencial do aprendente.
Medeiros[1] (1999) relata como é trabalhoso compreender o ser humano, identificar o que pensa, sente e conseguir perceber os reais motivos que impulsionam o seu comportamento. Ele enfatiza a dificuldade que o homem tem de entender o que se passa no seu íntimo e ser capaz de expressar os seus verdadeiros sentimentos. Comprovando assim os obstáculos que a criança pode também apresentar para expressar suas dificuldades existentes na área do ato de aprender.
Por isso urge a necessidade da educação ver a importância do psicopedagogo na sua atuação escolar visando colaborar com os profissionais da área da saúde mental através do psicodiagnóstico esclarecendo os fatos causadores da impossibilidade do educando em discernir o conteúdo apresentado pelos educadores. Tendo como objetivo envolver uma variedade de ações as quais contribuam e proporcionem meios para prevenir que as dificuldades de aprendizagem e dos currículos afetem o saber já existente no educando.
1 O PSICOPEDAGOGO E A SUA ARTE DE INVESTIGAR.
Ainda eclode de forma intensa a dificuldade de profissionais da área da saúde em realizar investigações eficientes e eficazes. E a saúde mental não fica a margem dessa realidade. Na área da dificuldade de aprendizagem os pais na maioria das vezes já chegam com o seu laudo pronto de acordo com o senso comum e sua história de vida.
O psicopedagogo lida com muitas informações, a verdade da criança, dos pais, dos professores e a sua própria verdade. Diante de tantas falas, ele precisa estar apto a ter um olhar diferenciado e norteador para elucidar com eficiência o ponto de partida que esteja a fundamentar as ações negativas do individuo.
Para realizar seus diagnósticos Freud avaliava a importância do conhecimento em saber sobre aquilo que o paciente não podia dizer, por causa do processo do recalque, do obstáculo à defesa, impedindo o sujeito de recordar e de narrar.
E ainda no século XXI esta importância abrange a psicopedagogia, apesar de ser uma ciência atual, volta sua preocupação para aprendizagem da criança na pré-escola. Fenichel[2] (1981) também relata a importância da atenção no que o paciente não fala ou recorda. Esta situação ocorre na pré-escola quando a criança não sabe expressar suas emoções. O psicopedagogo precisa desenvolver um olhar aguçado e obter o apoio do professor e familiares para juntos decifrarem a dificuldade de aprendizagem existente no educando. Precisamos explorar as diversas maneiras pelas quais as crianças podem demonstrar o caminho que devemos seguir para investigar o que afeta o seu potencial de aprendizagem para evitar psicodiagnósticos realizados sem analisarem a diversidade da verdadeira causa do sintoma. A criança também possui um não saber que causa muita angustia, pois o seu desenvolvimento cognitivo esta a ser formado e que atua na sua capacidade de expressão em falar o que sente. O terapeuta diante desta adversidade precisa investigar de forma detalhada os sintomas existentes observando os mínimos detalhes que irão detectar a ponta do iceberg e utilizar uma equipe multidisciplinar o que ainda hoje dentro da escola é um desafio a ser ultrapassado o qual dificulta o trabalho do orientador pedagógico e educacional na identificação da causa do problema da dificuldade do aluno se está no pedagógico, na família ou na constituição física da criança e que geralmente leva a um mau prognóstico devido à demora do início do tratamento. Uma equipe a qual venha utilizar as suas contribuições das medidas investigatórias para fundamentar um psicodiagnóstico de qualidade, mas precisamos estar conscientes de que as mesmas são apenas meios utilizados visando prestar bons ou maus serviços, conforme a maneira de emprega-las e o uso dado aos seus resultados. MEDEIROS. [3](1999).
2. A FINALIDADE DOS TESTES NA PSICOPEDAGOGIA
Ao utilizarmos um teste torna-se necessário comparar os examinados, classificar com equidade e isenção dentro do grupo Como nos diz: Mario Quintana “Deem- se a mesmas rimas a diferentes poetas, e de cada poeta brotará um poeta, diferente. Agora, se o rio do poeta não for lá muito piscoso – que culpa tem o anzol?” Dar destaque a pele torna-se uma nova possibilidade como um dado de origem orgânica e ao mesmo tempo imaginária, como sistema de proteção da individualidade do sujeito. ANZIEU[4] (1989) nos diz: As sensações cutâneas introduzem as crianças da espécie humana, mesmo antes do nascimento, em um universo ainda difuso, mas que desperta o sistema percepção-consciência. Observar e perceber os sintomas apresentados no seio familiar, sala de aula, há um mundo a ser descoberto dentro de cada criança e cada jovem. CURY[5] (2003)
3. A IMPORTÂNCIA DA INTELIGENCIA EMOCIONAL
A defesa da importância da inteligência emocional do sujeito – segundo GOLEMAN [6](1995)l incluem autocontrole, zelo, persistência e a capacidade de nos motivar a nós mesmos. “Qualquer um pode zangar-se – isso é fácil. Mas zangar-se com a pessoa certa, na medida certa, na hora certa, pelo motivo certo e da maneira certa não é fácil.” (Aristóteles, Ética a Nicômaco,). Uma atitude de suma importância relacionada aos profissionais da área de saúde mental e reconhecerem a importância de fazerem terapia para resolverem suas próprias angústias e alcançarem seu equilíbrio emocional contribuindo sempre para uma interpretação imparcial e madura diante de suas próprias opiniões e as alheias. Pois crianças também possuem emoções sutis e destrutivas as quais o psicopedagogo precisa estar apto a identificá-las evitando confundi-las com doenças.
4. APRESENTANDO A HISTÓRIA DO DIAGNÓSTICO E SUA INFLUÊNCIA NA FORMA DE INVESTIGAR DO PSICOPEDAGOGO
A preocupação em diagnosticar é algo desde os primórdios, pois o primeiro a utilizar o termo diagnóstico foi Hipócrátes que tem o significado de discernir, a palavra origina-se do grego diagõstikós é constituída do prefixo dia significa através de, em meio de. Mais gnosis, = conhecimento. Na antiguidade os médicos apenas usavam os cinco sentidos. Na investigação do psicopedagogo e o nosso olhar clinico envolve uma escuta e percepção onde os nossos sentidos saudáveis irão contribuir positivamente no tratamento dos problemas de aprendizagem. No ano de 1895 Roentgen através da descoberta dos raios-X obteve o marco inicial da era tecnológica. Apenas no século XX é que a tecnologia médica se aperfeiçoou o diagnóstico por imagens.
5. A IMPORTÂNCIA DO PSICODIAGNÓSTICO NA PRÉ-ESCOLA.
O psicopedagogo precisa evitar ter uma visão organicista a qual apresenta uma concepção extremamente patologizante. que ocorria na década de trinta quando os genitores desta época antes mesmo da consulta rotulava seus filhos de D.C.M (Disfunção Cerebral Mínima) a impressão do autor é que conviviam em uma população de anormais. CYPEL[7] (I986) A criança que apresenta dificuldades na escola para aprender sempre é muito marginalizada sendo sempre tratada como portadora de disfunções mentais, neurológicas ou psicológicas ocorrendo evasões e altos índices de repetência que impedem a descoberta do verdadeiro problema que poderia legitimar a verdadeira causa e um tratamento eficaz da dificuldade de aprendizagem. Existem uma variedade de dificuldades de aprendizagem na pré-escola: Difasia/Afasia – Distúrbios de fala e linguagem. Dislexia – deficiência na área da leitura. Disgrafia- o termo geral para uma deficiência na área da escrita. Discalculia – deficiência na área da matemática. O psicopedagogo estará contribuindo para um psicodiagnóstico que identifique na hora certa as dificuldades de aprendizagem existentes, professores capazes na execução de suas tarefas estará colaborando para fundamentar a aprendizagem do aluno neste período tão importante de sua vida. A humildade é um fator muito importante na hora do psicodiagnóstico para o psicopedagogo e demais profissionais da área de saúde mental sendo sinceros com os limites próprios ao seu saber. A capacidade de discernimento necessária para identificação das causas e dos sintomas vai além da que o senso comum possa dar, pois precisamos chegar o mais próximo possível da causa do sintoma que acomete o sujeito. E quando começamos a identificar a realidade do mundo da criança na pré-escola, usando conceitos, noções e teorias científicas e até mesmo o mundo espiritual o resultado da investigação será muito mais eficiente. O psiquiatra BALDUINO[8] (2010) já relata “Nos países latinos a prática do mediunismo é extraordinariamente difundida, e deve ser levada em conta pela comunidade científica, por ser o método mais simples de se pesquisar a mente humana. Também é de suma importância conhecermos o potencial das emoções e cultivarmos a habilidade em identificá-las . GOLEMAN [9](1981) enfatiza que hoje a neurociência nos incentiva a levar a sério as emoções. De acordo com a lei n° 4119 de 27/08/62, diagnóstico psicológico é uma das funções exclusiva do psicólogo. Contudo no momento em que tomamos a decisão de realizar um psicodiagnóstico é fundamental termos conhecimentos teóricos dos procedimentos e técnicas psicológicas para evitarmos usá-las inadequadamente.
6. O PSICOPEDAGOGO APRENDENDO: UM NOVO OLHAR ,BASEADO NO DIAGNÓSTICO SOB O PONTO DE VISTA DE FREUD.
Freud através da psicanálise desejou avaliar de forma mais clara o que estava a acontecer no interior do sujeito FENICHEL[10] (1981) compara o objetivo da psicanálise como a de um cão policial capaz de farejar o criminoso, assim Freud fazia aos seus pacientes com a meta de elucidar aquilo que estava a afligir o individuo. O psicopedagogo também precisa ter um faro fino para investigar a criança na pré-escola vendo todas as possibilidades possíveis dentro do psicodiagnóstico. Na hora de avaliarmos o sujeito é fundamental a observação da influência do meio ambiente detalhadamente em sua realidade prática. E ao se utilizar esta área torna-se necessário evitar o desequilíbrio quando tentamos investigar a relação entre as necessidades biológicas e influências externas superestimando uma ou a outra. Não se pretende concluir que sem os achados de Freud não existiria conhecimento psicológico cientifico, mas pode-se afirmar que todo conhecimento psicológico se esclarece quando considerado sob o ponto de vista psicanalítico.
O psicodiagnóstico na fase pré-escolar precisa ser bem elaborado para que os profissionais da área da saúde mental possam ocupar o seu devido lugar com respeito a si mesmo e aos genitores e crianças que estão à procura de solução para as suas angústias no âmbito educacional envolvendo as dificuldades de aprendizagem sua investigação e tratamento.
Nada mais frustrante para genitores e professores verem um aprendente ser reprovado inúmeras vezes ou ao contrário ser transferido de série, contudo a sua aprendizagem esta totalmente devassada.
Texto da Psicóloga e Professora Valéria Maria Barreto