Fábrica de conservas do Ceará beneficiará produção pesqueira das regiões Norte e Nordeste
Pela primeira vez, a produção de conservas de pescado, tradicionalmente realizada nas regiões Sul e Sudeste no Brasil, vai também ser realizada no Nordeste, mais precisamente no estado do Ceará.
O passo decisivo para isso foi dado nesta segunda-feira (31 de março) com o lançamento da pedra fundamental de uma fábrica de conservas em São Gonçalo do Amarante, município da Região Metropolitana de Fortaleza, distante 55 km da capital, onde se encontra o porto de Pecém, um dos maiores do Brasil, estrategicamente situado, por ser o mais próximo dos Estados Unidos e da Europa.
A fábrica – que terá ao todo 10 mil m2 de área construída e exigirá investimentos da ordem de R$ 23 milhões – irá processar, a partir de meados de 2014, aproximadamente 60 toneladas de pescado por dia, provenientes das regiões Norte, Nordeste e ainda de estados como o Rio de Janeiro.
Serão gerados 550 empregos diretos e centenas de outros com os insumos requeridos pela fábrica, como molho de tomate, óleo de soja, latas para a conserva e embalagens. Os insumos irão ser adquiridos no Ceará e em outros estados do Nordeste.
A cerimônia que marcou o início da construção da fábrica na manhã de hoje contou com a presença do ministro da Pesca e Aquicultura, Eduardo Lopes, e do prefeito de São Gonçalo do Amarante, Cláudio Pinho, entre outras autoridades.
A indústria é resultado da parceria entre a cearense R&B Aquicultura, já estabelecida no município, e dedicada ao beneficiamento de peixes e crustáceos, e a Crusoe Foods do Brasil, empresa do grupo espanhol Jealsa, segundo maior produtor de conserva da Europa.
“A presença de investidores estrangeiros nesse empreendimento não acontece por acaso. Eles decidiram investir em São Gonçalo do Amarante primeiro porque se sentiram seguros. E depois, porque perceberam que o Brasil reúne todas as condições de fazer o empreendimento crescer”, destacou o ministro Eduardo Lopes na oportunidade.
Enlatamento
O novo empreendimento estará situado onde opera a R&B Aquicultura, no distrito de Siupé. De acordo com Max Mapurunga, diretor presidente da R&B Aquicultura, o investimento na ampliação da planta exigirá recursos da ordem de R$ 20 milhões do parceiro espanhol. O restante dos recursos será da empresa cearense, que possui um grande terreno na região, para futuras expansões.
A fábrica, que terá equipamentos modernos adquiridos no Brasil e na Espanha, de aço inoxidável, deve produzir aproximadamente oito milhões de latas de sardinha e atum por mês.
Segundo o dirigente, cerca de 60% da produção será comercializada na região Nordeste, considerada o maior mercado consumidor de atum e sardinha em conserva do Brasil.
Na fábrica, a maior parte dos empregos serão para mulheres, consideradas geralmente hábeis no manuseio de pescado.
No início a produção atenderá prioritariamente o mercado nacional. Apesar disso, a fábrica já dispõe de certificação de qualidade para comercializar os seus produtos na Europa, Ásia, África e América Latina, e busca conseguir o mesmo licenciamento para a Rússia.
A previsão é de que a fábrica irá demandar diariamente, como matéria-prima, 45 toneladas de sardinha e 15 toneladas de atum.
Conforme a parceria, a empresa cearense irá adquirir a matéria-prima e fazer as operações de limpeza e congelamento. Já a espanhola cuidará do enlatamento, sobretudo de sardinha e atum. Partes menos nobres, como cabeça e vísceras serão processadas para produzir farinha de peixe, componente de ração para camarões, tilápias e pequenos animais. Os enlatados serão comercializados com a marca Robinson Crusoé, já presente no mercado.
Na região Nordeste, o atum, das espécies albacora e bonito listrado, está sendo desembarcado no Terminal Pesqueiro Público de Camocim, construído pelo Ministério da Pesca e Aquicultura a aproximadamente 300 Km ao norte de Fortaleza.
A nova fábrica estuda a possibilidade de fazer filé de cavalinha e ainda de tilápia, nesse caso aproveitando os cultivos da espécie no Ceará. Parte da sardinha e do atum serão adquiridos e processados no mercado do Rio de Janeiro, e embarcados através do Terminal Público de Niterói, também construído pelo MPA.
De qualquer forma, a unidade dará grande estímulo para o aumento da produção pesqueira nas regiões Norte e Nordeste. Por isto, o ministro Eduardo Lopes lembrou que a fábrica fortalece o setor pesqueiro nacional e incentiva a captura de atuns e afins no litoral. Ele recordou que o Brasil tem cotas de captura de atuns, acertadas com a Comissão Internacional para a Conservação do Atum do Atlântico (ICCAT), que devem ser aproveitadas de fato, para que o País não corra o risco de vê-las reduzidas.
Para Mutsuo Asano Filho, diretor de pesca industrial do MPA, a nova fábrica irá estimular os armadores a adquirem embarcações mais modernas e produtivas, já que haverá maior segurança na destinação da produção.
Mercado brasileiro
O grupo espanhol Jealsa, criado há 56 anos, está presente no Brasil desde 2010, com o propósito inicial de conquistar 20% do mercado brasileiro de pescado em conserva. Hoje o grupo já domina 7% do mercado. As unidades do grupo podem ser encontradas em países como Espanha, França, Itália, Guatemala, Marrocos, Grã-Bretanha, Portugal, Estados Unidos, Canadá e Chile.
No mundo, o faturamento do grupo de origem espanhola, segundo Javier Alonso, diretor geral da Crusoe Foods, é de US$ 1 bilhão por ano, 70% relacionado a pescado.
De acordo com Javier Alonso, a primeira unidade de produção do grupo no Brasil foi implantada no Rio Grande do Sul e a segunda será a do Ceará. O grupo pretende construir até 2016 a sua maior unidade no País no Rio de Janeiro, que deverá gerar cerca de mil empregos. Ele destaca que no Ceará a empresa produzirá um enlatado “com uma abertura moderna e conveniente para o consumidor, conhecida por Solapin”. Para ele, o seu grupo tem constante preocupação com a inovação, para ofertar aos consumidores produtos “mais fáceis de consumir, mais nutritivos e mais saudáveis”.