Enem, bolsas e outras coisas mais
O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) se transformou no maior vestibular do Brasil. Neste final de semana, mais de 8,7 milhões de candidatos fizeram a prova em todo o país. A maior parte deles está em busca de uma vaga na universidade por meio do ProUni, Fies, Sisu ou Ciência Sem Fronteiras, programas do governo federal garantem o financiamento dos estudos em universidades particulares ou acesso às instituições públicas, além de intercâmbio internacional.
Não dá pra negar que houve um salto considerável na democratização dos estudos no Brasil. Diz a propaganda do governo que o filho do pedreiro, do motorista ou da faxineira agora têm oportunidades iguais às dos nascidos em famílias ricas. Só que não é bem assim. As melhores universidades, sobretudo as públicas, ainda são frequentadas pelos endinheirados, moças e rapazes que tiveram condições de cursar os ensinos fundamental e médio em colégios particulares – considerados mais fortes.
Veja a contradição: o filho do pobre cresce na escola pública e precisa do financiamento do governo para estudar na faculdade particular, considerada mais fraca; o filho do rico cresce na escola particular e cursa a universidade pública – de graça, considerada mais forte. Pergunto: quem terá melhores condições de disputar as vagas de emprego? Quero deixar claro uma coisa: não estou propondo uma luta de classes. É exatamente o contrário. Se a igualdade é pregada pela propaganda do governo, por que ainda há tanta desigualdade?
A Folha de São Paulo publicou reportagem na semana passada mostrando que metade dos calouros da USP está entre os 20% mais ricos do Brasil. Estamos falando da metade. O estudo feito pelo economista Sérgio Firpo, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), mostra ainda que a renda dos alunos ingressantes na USP é duas vezes superior aos ganhos da população brasileira.
O Brasil avançou e incluiu mais jovens no ensino superior? Sim. Óbvio que sim. Mas não dá pra tapar o sol com a peneira e afirmar que as condições entre o filho do rico e o filho do pobre são equivalentes. Mais do que números, precisamos de qualidade. Ensino de qualidade. Se o dinheiro gasto hoje com os programas de financiamento estudantil fosse investido com mais força nos ensinos fundamental e médio, certamente teríamos mais filhos de pobres nas universidades públicas.
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Fonte: noticias.r7.com/blogs/marcos-pereira