Reflexões sobre o colapso da educação e da sociedade e sobre o nosso papel nesse cenário
Desde sempre se ouve falar que a educação é o caminho para uma sociedade mais justa, para o desenvolvimento do país e até para um mundo melhor. Sempre acreditei nisso. E ainda acredito. No entanto, muitas vezes falamos de “sociedade”, “desenvolvimento” e “educação” como sendo coisas abstratas, com suas existências a priori e desconectas das ações dos homens, ou seja, das nossas próprias ações. Esquecemos que a sociedade quem fazemos somos nós, assim como nós somos os responsáveis pelo desenvolvimento do país e da educação. Esquecemos que a responsabilidade é nossa e insistimos na postura de “apontar o dedo” para o que supostamente está errado ao invés de adotarmos uma postura de mudança e atitudes que cobramos dos nossos representantes legais, os políticos. É muito comum ouvirmos as pessoas reclamarem que o problema do Brasil são os políticos, que são ladrões e corruptos.
É interessante notar que muitas vezes os que entoam esse discurso, além de votarem sistematicamente no mesmo candidato/partido – isto é, não têm uma postura de mudança – têm em suas casas o chamado “gato” na luz e/ou na TV por assinatura, compram itens piratas, furam a fila no banco, estacionam em vagas destinadas a portadores de necessidades especiais, idosos e gestantes, oferecem suborno a policiais, entre outras atitudes tão corruptas quanto aquelas que reprovamos nos nossos políticos. Políticos que nós elegemos, vale sempre à pena lembrar.
A educação é uma parte importante de qualquer sociedade, é a sua base, ao mesmo tempo em que é o seu reflexo. Quantas vezes ouvimos jovens reclamarem que não têm direito a uma “educação (pública) de qualidade”. Verdade.
Mas será que esses mesmos jovens que protestam, que vão a passeatas, estão fazendo a sua parte para melhorar a educação? Frequentam as aulas? São atentos e respeitosos com seus professores? Têm cuidado com o material que recebem e com as instalações das escolas em que estudam? Fazem suas tarefas de casa e de aula? Em outras palavras, fazem a sua parte?
Professores reivindicam melhores salários e devem reivindicar mesmo. São ínfimos e injustos. Sou professora e professora da rede pública. Mas estamos fazendo a nossa parte?
Estamos fazendo o que nos propusemos a fazer? O que nos comprometemos a fazer, quando já estávamos cientes de todas as dificuldades? Não, não acho que devemos aceitar os salários ruins e as condições precárias de trabalho. Só não devemos usar isso como desculpa para não fazermos a nossa parte. Talvez se fizéssemos nossa parte em educar com compromisso e dedicação crianças e jovens, despertando-lhes o gosto pelo conhecimento e a cidadania, mas só talvez, tivéssemos alunos mais atentos nas salas de aula, que futuramente se tornassem cidadãos conscientes e eleitores responsáveis, capazes de eleger representantes que valorizem a educação e os profissionais que lutam para tornar esse país um lugar melhor. A educação não se faz sozinha. A sociedade não se organiza sozinha. O desenvolvimento não se dá sozinho. Um país não se constrói sozinho. Somos nós quem fazemos educação, sociedade, desenvolvimento, um país. É chegada a hora de assumirmos nossas responsabilidades se quisermos que verdadeiras mudanças aconteçam.
por Profª Doutora Livia Castro