As contradições deste país ou por que gastar o seu latim?
por Petruska Perrut,
As contradições deste país – ou por que gastar o seu latim? Diz-se, ouço desde menina e acabei acreditando, que a educação fará este país se desenvolver. Já então, vinha a pergunta: Mas como?
Simples: mais investimentos, melhor qualificação dos profissionais… “Não, não! Não é ‘como melhorar a educação?’, mas como se dá a equação melhor educação = mais desenvolvimento?
Ah… Bom, simples também. Quem é educado lê, instrui-se, aprende, conversa, dialoga, tem idéias, executa-as, apresenta opiniões um pouco mais consistentes que uma gelatina sem sabor, pode fazer e acontecer melhor.
Eis, todavia, que numa conversa de botequim, noto, as mesmas pessoas a defender “mais investimentos para a educação!”, “sem educação o país não vai para a frente!”, “viva a educação!” são as que sucumbem ao desesperançado discurso mais que lugar-comum “Ih! Nem adianta ensinar nada a essa garotada!”, “Esses jovens não querem p.n. com a hora-do-brasil!”, “Eles mal aprendem português e matemática, que dirá economia, noções de direito, cidadania, política…”, “Se eles nem sabem pensar!” (Sim, há muita gente crendo no determinismo genético do pensamento!) E quase os ouço dizer: Ensinar a molecada a tornar o país melhor? Que nada! Qual o quê! Pra quê? Ensinar a pensar? Que desatino! Pensar pra decidir melhor? Pra escolher melhor? Pra fazer melhor? Necas! Brindemos a nossa insatisfação. Garçom, mais um chope! O que me incomoda, a pergunta incalável é: então pra que reclamar que “o país está…” etc. etc., quando o discurso da desesperança permeia todo o espaço da criação de e investimento real em alternativas? Pra mim, parece gastação de latim. À toa.